domingo, agosto 28, 2005

Cicatrizes

Cada cicatriz minha me lembra algo. Teria vergonha se não soubesse sobre tudo que compõe meu corpo, desde os genes dos meus ancestrais (marcas alheias em mim) até as minhas cicatrizes (as marcas dos meus caminhos).
Se nos filmes, ao passarmos por caminhos tortuosos e sombrios, carregamos arranhões, os arranhões da vida vêm das mais belas e ingênuas brincadeiras de criança. Não digo que não houve sofrimento: o êxtase sempre acabava em choro. Mas digo que toda a felicidade do pega-pega e do esconde-esconde prevalecia. Todas as minhas lembranças doces da minha infância se eternizaram em marcas de amargas feridas, mas se esternizaram.
Sobre essa infância, devo dizer que perdura até hoje. Que perdurará para sempre se eu for perita na arte de viver. Que o esconde-esconde nunca será revelado, e os arranhões sempre acontecerão no dia-a-dia ou na vida-a-vida.
Outras marcas (invisíveis aos outros, gritantes a mim) compõem meu eu. Não acredito em coisas metafísicas, mas eu diria então sobre o quê? As marcas do meu cérebro? Tirarei uma licença literária para falar das marcas da minha alma. Aquelas que fizeram de mim o que eu sou hoje, e das quais não consigo ( e nem posso) me desvencilhar. Elas talvez sejam marcas de filmes, de caminhs tortuosos... Não sei. Essas são as lembranças que ficam. São as lembranças que me fazem seguir em frente, até que a minha vontade de viver esteja saciada.
Ademais, devo dizer que ainda tenho muita pele lisa e alma intocada. Continuo assim, moldando-me, até que eu mesma seja uma marca para mim, ou para alguém... Ou para ninguém.

5 comentários:

Anônimo disse...

Luísa, a gente usou o mesmo tema de forma totalmente diferente. Você sempre com suas imagens e metáforas me fez pensar em coisas que nunca imaginei e ainda me fez enxergar tudo o que descreveu. Você tem dom menina. Lindo tudo que você toca.

* Ontem você me devolveu um sorriso. Estou devendo uma. Beijos. Até mais tarde.

Anônimo disse...

Engraçado isso...lendo seu texto, maravilhoso por sinal, pensei imediatamente na Lulu. E olha ela aí comentando...
Dos que eu li, esse seu texto é o mais bonito e o que mais me marcou. Olha só, vc passou a ser uma marca em mim.
Beijão e boa semana querida.

Anônimo disse...

Ah... ela está se tornando especialista em nos marcar... rs! Já é redundante se eu reforçar o quanto adoro vir te ler? Não sei, então saiba mais uma vez que adoro vir te ler... É que traz uma sensação de novo, uma novo ângulo, nova dimensão... em fim, complementa o que por diversas vezes penso e quase ninguém entende ou aceita! Beijões depois se der acesse este blog http://killbill.blog.uol.com.br/ O cara que escreve tbm é meio doido... rs, no bom sentido da coisa... conheci o blog hj, mas ja gostei. Beijos

Anônimo disse...

Marcante my dear! Eu tenho tantas marcas que umas já estão sendo sobrepostas às outras. Mas estão lá, indeléveis, para sempre. Funciona, eu garanto, vá lá naquela coisa preta e descubra um novo meio de rir das nossas próprias desgraças. Um monte de gente já foi e marcou terreno.

Anônimo disse...

Já que falou sobre "cicatrizes" e mencionou o vocábulo "filmes", evoco sobre o assunto uma frase interessantíssima do Dr. Hannibal Lecter, no filme "O Dragão Vermelho": "Não se queixe das dores. As cicatrizes nos fazem lembrar que o passado foi real". Tenha uma excelente e iluminada semana. A gente se Bloga por aí.