sexta-feira, agosto 26, 2005

Eidetismo II

De repente deparo-me com um bosque em minha frente. Fora as gramíneas, os primeiros vegetais que meu olhar intercepta são jovens, são mudas. Evoluem para árvores imponentes e majestosas... Que são flores perto destas, tão garbosas? Festa das cores, perfume da primavera, dança selvagem e sutil: convite a um passeio. Conforme vou, excitada, adentrando-me à floresta, as cores vão desaparecendo, assim como a vida. Árvores tão vistosas envelhecem, o tempo passa e não o vejo, não o alcanço. A medida que avanço o ar torna-se denso e viciado, as cores se perdem totalmente, a luz também. Perco a direção, para onde devo ir?, perdida começo a girar sem mover os pés. Corro desesperadamente, o gosto de sangue na boca, o calor, as feridas e os arranhões, degrado(-me). Com o tempo e o cansaço, tudo fica mais nítido e claro. Alcanço uma clareira onde, atônita, vejo bruxas enforcadas nas árvores com os pés de morte balançando em um passivo e mórbido bailar. E o olhar de quem viu verdade. O olhar me incomoda e faz surgir ruídos dolorosos na minha cabeça. Começo a gritar de desespero, perco o chão sob os meus pés e inicio uma queda infindável em meio às trevas.
Depois da tormenta, a calmaria: passeio por um jardim repleto de flores, onde, ao longe, crianças brincam em um playground. Está chovendo e trovejando, pelas narinas o cheiro de terra molhada. Está escuro, mas perfeito: a chuva é minha redenção, os trovões embalam os sentidos cada vez mais aguçados.
O despertador toca, rapidamente me arrumo pra mais um dia de olhares massacrantes no colégio. Corro para não perder a aula, como se ansiasse pelos olhares de reprovação. Ao encarar a professora, sinto um frio estranho: meus pés estão descalços e o chão, gélido. Gélido como as risadas da sala. Gélido como a idéia de não ter sapatos. Gélido como a vida de uma criança perdida.

5 comentários:

Anônimo disse...

não sei se estou sóbrio o suficiente pra emitir um comentário agradável, mas a euforia alcóolica me obriga à escrever...
seus sonhos renderão um capítulo à parte no meu livro... acho q vira filme, na pior das hipóteses uma novela mexicana... =o
eu sempre quis ir pra aula descalço...

Anônimo disse...

Estou aqui ;)
Foi mal a ausência, só agora pude dar as caras.
Perfeita a parte dos sonhos e do colégio! O olhar do outro é um inquisidor terrível. Ainda mais na sala de aula.
Depois de um dia estafante de colégio eu teria o máximo prazer em ter o mesmo sonho, mas com os colegas de sala enforcados no lugar das bruxas...hehehehe

Bjossss

N.B.: meu blog se chama Freiheit. E te adicionei no msn.

Anônimo disse...

Luísa... a forma como você descreve as sensações torna tudo real demais, é como estar no seu conho vivenciando cada momento! Um abraço!

Anônimo disse...

Luísa, você é uma das pessoas que eu conheço que melhor sabe construir metaforas e imagens e lugares e nos fazer vivenciar situações que nos faz parecer viver... Lindo tudo que você escreve. Até mesmo as partes mais sobrias.

Anônimo disse...

Oi moça! Vim dar-lhe boa noite e que seja ótima e que seja perfeita e que seja plena... como esta enxurrada de sentimentos que formam simplesmente: Luísa.