domingo, novembro 20, 2005

Banjo

talvez fosse um banjo

desafinando
desafiando
desfiando
desfiado
refiado
fiado
ado

a dor...

vida afora.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sistema

Caminho na calçada
minha, minhas incógnitas
queridas, que passam.

Sentidos opostos; somos
afinal, o nosso caminhar,
nossos caminhos, nossos passos,

Nossos pés. Que nos levam,
que nos deixam,
que tropeçam sôfregos.

E vou, se chego:
termo independente nulo
na partida infinita.

E chego, se vou:
Solução trivial na inércia
de quem parte novamente.



Nota: Quinta-feira, quarto horário, Álgebra, sistemas lineares, solução trivial = {0,0,0}. A Matemática me toca de algum jeito que não deveria - antes isso que o óbvio da minha relação de ódio com Exatas.

P.S.: Parceria com a , minha companheira no mundo da escrita. Tema sugerido por ela. Confiram a outra versão no Eu Sou Atoa!

segunda-feira, novembro 07, 2005

Talvez

talvez seja assim
talvez

os passos de dança
risos e prantos
malabarismos
ensaio

vãos
tranpiro inspiro-
me

ouve-se os aplausos
mas não vê-se a platéia

talvez estivesse lá
talvez.

(talvez a melhor platéia
seja a que nunca vejo;
seja a que só ouço.)

domingo, novembro 06, 2005

Little damaged man

"Oi?"
"Opa"
"Bom?"
"Yeah... Kind of..."
"Você nunca responde plenamente sim, não é mesmo?"
"Não existe felicidade plena..."
"Wrooooong! Não existe felicidade plena que dure para sempre, mas temos nossos momentos.
E também existem os momentos em que a felicidade não é plena, mas predomina a ponto de se responder, animadamente: 'sim! estou muito bem!' "
"Não... Não pra mim... Essa é a sua maneira de ver o mundo..."
"Vixi... Ok, vou tentar não te contagiar com o meu otimismo."
"Guarde ele pra você... Pode precisar dele mais tarde..."
"É, guarde seu pessimismo pra você, pode precisar dele mais tarde (?)... Tipo, mais tarde, sabe? Quando você estiver sendo feliz..."
"Sim... Uma dose de pessimismo é bom na felicidade... Diminui o tombo"
"(Tombos de rachar a cabeça e o coração são necessários... É um custo justo... Para não ficar comfortably numb)"
(...)
"Acho que estamos ficando velhos"
"Hoje eu fiquei meia hora me olhando no espelho, pra depois olhar mais cinco minutos, perplexa: perdi trinta minutos da minha vida me olhando no espelho!... Pensar isto é estar velha..."


E assim segue a vida, os diálogos, as interrogações, as exclamações, as reticências... Sem rumo e sem prumo. Tentando achar sentido no que talvez não tenha sentido nenhum. Não é melancolia pensar isso. Se você repetisse a palavra "bola" incessantemente até que essa perdesse seu significado, talvez a ausência de significado fizesse da palavra algo significativo. A falta de significado faz dela um mistério, o mistério engrandece.

Isso me leva à minha oração ao mistério, na falta de pretexto melhor pra orar. Mas isso fica pra outra ocasião.



P.S.: A dona flor à esquerda, the little damaged man to the right, cada um buscando o seu sentido.

terça-feira, novembro 01, 2005

Perplexidade bate à porta

Eu quero realmente saber o porquê da banalização da palavra. Sim, quero. Por que, céus, por que, de repente, as pessoas agem como se ninguém estivesse ouvindo o que elas falam? Às vezes parecemos falar sem perceber que as nossas palavras valem alguma coisa, não importa quão ínfima como pessoa nos sintamos.

Na verdade eu não quero exatamente falar disso, já que a proposta de mais uma parceria minha com a era um post sobre os homens. Na verdade, um post sobre como os homens (seres do sexo masculino, sim, esse sexo complexo prolixo que eu tanto quero chamar - desculpe-me alguns - de lixo!) falam coisas, na maioria das vezes poucas, mas nas quais nem os próprios acreditam.

Mas eu devo informar de que nós, mulheres, acreditamos. Porque o racional é pensar que a palavra existe pra valer alguma coisa, e essas palavras valem muita coisa para nós. Muita. Quase tudo. Porque é do grão-de-areia que nos dão que construímos um castelo de areia, que sempre vem a desabar. As palavras-de-vento masculinas sempre sopram incessantemente sobre ele.

Que tal se os homens nascessem mudos (pra eu não ter que ver em nenhum comentário: "que tal se os homens nascessem surdos?").

Ou todos nascessemos mudos, assim nunca mais teríamos a perplexidade incrédula. Nem as palavras-de-vento. Nem os castelos de areia.

(Que pena, eu sempre gostei dos castelos de areia).