terça-feira, julho 18, 2006

Desistam

não escrevo pra ninguém
se nem sei que estou aqui...
diga se puder me ver que
me sentirei dignificada.

sabe, é chuva de canivete
são pessoas, sentimentos
qualquer um, um qualquer
por aí... em um só.

são todos em um só um
é tudo em um só todos
é o mundo, é a vida, é
é sim, tudo todavi(d)a

as pessoas não são pessoas,
são sentimentos, que não
são sentimentos, são o que
passam, é o que fica, é o
que (me) importa, sim.

quinta-feira, julho 13, 2006

Direito de Resposta

O amor é estado latente de angústia, é querer perto se longe e longe se perto, é medo de perder o que não possui, é querer sempre o sorriso do amado, é egoísmo, é felicidade forjada em ouro-de-tolo, é vertigem, é frio permanente na barriga, é ânsia, é desejo, é hormônios, é medo de ser só, é não querer admitir que si mesmo não basta, é sentir segurança nas mãos dadas e insegurança em todo o resto, é a busca de saciedade dos instintos mais primitivos, é ter motivos pra tentar (em vão) ser perfeito, é procurar escapatória na mentira, é ópio que corrói, é utopia perceptivelmente ilusória, é dancingue dos sentidos sem senso, é esquecer de respirar, é sufocar(-se).

E engorda.

É colocar-te nesse papel se não te agüento em mim. É não te agüentar em mim se sei que não estou em ti. É pra não querer estar em ti, é querer sufocar o orgulho.
(Amor e tristeza são orgulho ferido de fêmea ou grito de liberdade.)

De Fininho


De fininho assim, e meio de lado, declaro a volta triunfal dos anjos decaídos. Apocalíptico ou não, que meus demônios sejam exorcizados e minhas bondades aplacadas, equilibrium est.

Se minha liberdade é azul (e rubra, rubríssima) eu declaro aqui meu direito de exercê-la, só pra não me esquecer novamente. Anjos decaídos, hipopótamos insones, equilibrium est.

Meu pseudosacerdócio não engana ninguém, eu sei.

Mas meu desequilíbrio engana, sim.

terça-feira, julho 11, 2006

Cotidiano

eu abri
eu abri
e estava tão feliz
azul lilás serpentina
feliz era cristal
era cristal
rococó cristal

e você me quebrou.
imagina...

segunda-feira, julho 03, 2006

Prosa

Prosa, prosa... vamos todos prosear! Assim, com muitas linhas e parágrafos e pontos e pontos-e-vírgulas usados inadequadamente com uma bocado de exclamações e muitas interrogações implícitas, sabe como?, daquelas de quem não está entendendo muita coisa dessa vida sem razão ou não quer que o leitor entenda, ou daquelas que muito têm a dizer e nada dizem, também muitas exclamações e vírgulas e como falasse muito rápido sempre se esquecera desses pontos e desses fins e disso assim, com medo de acabar e não voltar mais.

Mas volta, ufa, só pra dizer que prosa não é coisa sempre calma não quando esquecemos daquela nossa infância na fazenda em Mariana, onde até tinha minha própria árvore. Assunto pacato assim, de quem não sabe como vai ser a vida, simples assim, de quem não gosta de rebuscar tudo (pois tudo não é, afinal, muito mais simples do que pintamos?). Minha árvore era muito simples, ficava em frente à casa e à esquerda do riacho (e tive que estalar meus dedos agora pra saber que lado era, na memória eu só sei que ficava lá do ladinho). Ah!, o córrego: desde que falaram que existia um tal de peixe que parecia uma pedra e que, se pisássemos, espetaria e envenenaria e iríamos morrer eu e minha prima tínhamos medo até de pedra, vê se tem cabimento um negócio desses!

E essa prosa boba, cheia de conjunções no início do parágrafo, cheia de infantilidades do menino-menina-moça-mulher (será?) que, de repente, teve medo do futuro e dessa cidade que parece que quer engoli-lo. Nessa luta de titãs diária: ele quer engolir a cidade, a cidade quer engoli-lo, e o córrego tem direito a cheiro de enxofre e quilômetros de congestionamento diariamente em vez da minha laranjeira. E quem ouve-lê essa prosa besta pensa até que eu tenho medo desse presente, mas eu tenho medo mesmo é do futuro, que parece mais é uma assombração. E se o futuro é reflexo do presente, aqui errou-se e erra-se e fica errando e errado se erra para sempre?

Seria só mais um erro tentar imitar a fala da minha tia-avó só pra tentar não ter sotaque dessa terra que me encontro e fingir que nunca saí daí? Erro querer voltar, erro querer o passado sempre, erro pensar que tudo sempre foi assim, lindo, amarelo verde azul cor-de-rosa, achar que tudo foi perfeito, na tentativa de ser feliz me considerar feliz desde sempre e que minha vida é apenas um sonho prestes a acabar?

Na prosa besta de algodão-doce eu deixo um lembrete de que tristeza é fácil de esquecer, mas é boa, sim, e que fiquem as cicatrizes, sempre.