sábado, agosto 19, 2006

Náuseas e Lágrimas

Essa tontura, esse frio na barriga, só com a vista de seu retrato. Como está diferente! E como é o mesmo garoto que eu conheci, a rosa que esmoreceu... Garoto? Não mais. Foram anos que se passaram nesses meses, anos!, e eu vejo isso estampado na foto. Enquanto segurava sua mão e éramos tão jovens (e ainda somos tão jovens!), há esses anos-luz-meses atrás, pensava que estaria sempre segurando-a e vendo o tempo passar, e vendo a paisagem mudar, e nossas mãos dadas não mudariam nunca. Eu o olharia com os mesmos olhos ternos e com a mesma cumplicidade de amiga que foi tão infinita enquanto durou. E acabou. E a ver você tão distante, tão adultescente, tão lindo!, e inalcançável.

Veria tamanha beleza quando estava do meu lado? Vi-a, dessa maneira, tão arrebatadora quando o tinha em meus braços, quando éramos crianças e nosso peso era tão leve... Nossas obrigações eram tão... nulas... É tão lindo aos meus olhos agora porque é inalcançável? Por ciúmes? Teria você um dia me olhado devastadoramente como no retrato? Era tão dócil, e a fortaleza na qual se tornou é a mesma que usa pra se proteger de mim, pra proteger o novo de um jeito que o velho não quis... Pra proteger o adulto de um jeito que a criança não pôde. O melhor ataque é a defesa, e só haveria de vencer a guerra que travou, quer como fosse. Aprendeu a se proteger, a desprezar, a esquecer.

Meu bem, se não tivesse se esquecido e lembrasse das mãos dadas eternas e da cumplicidade amiga... Não haveria do que se proteger!

terça-feira, agosto 01, 2006

Morbidez

(ou "Não chore pelo corpo que cai")

Adormecida pela conformidade e aprisionada pelo cotidiano, mora em si uma força incontrolável. Cárcere revoltoso do mesmo acordar e dormir para acordar e querer dormir, sorrisos que dão e pedem atenção, um choro com hora marcada para lembrar que o que é bom demais é enfadonho (mesmo que essa explicação pareça um desdém descarado diante de frustração universal, incorporado naturalmente à explicação de adversidades inexplicáveis), dos carinhos que nos fazem lembrar que somos pele, carne, osso e puro despreparo.

Se essa força aprisionada se libertar aos poucos e assim o mantiver vivo, não julgue sua natureza - é a vida, é a vida! Mas se ela não se agüentar e resolver voar sem prumo e levar consigo seu corpo, e ele saltar, não o condene suicida - apenas mais uma vítima da gravidade.