terça-feira, fevereiro 20, 2007

Corriqueiro

Não foi como das outras vezes. Ao menos, não no início. Não pensara em sexo até ouvir "acho lindo mulher dormindo" daqueles lábios que tanto beijara, e podia sentir seus batimentos cardíacos ecoarem na sua respiração ofegante.

Despiu-se e deitou-se na cama ao lado do amante. Ambos encaravam o teto com uma fixação e timidez descabida. "Queria vê-la dormir e acordar ao seu lado. Não vou tocá-la", disse ele.

O corpo dela virou-se e clamou por um sono que não viria nunca. Já havia sido de outros, mas nenhum a vira dormir antes. Ela poderia dormir de um jeito estranho, poderia roncar ou babar, acordaria com mau-hálito. Seu corpo a trairia e sua mente sequer estaria lá para saber.

Poderia fingir. Fechou os olhos e imaginou por que nenhum homem havia observado-a, assim, tão mulher e a dormir. O pensamento perdeu-se e ela percebeu que fingir dormir não era tão simples quanto fingir um orgasmo. Ela não tinha prática nesse tipo de "mentirinha".

Seu corpo virou-se novamente e sua mão tocou, de leve, a maçã do rosto e em seguida a parte interna da perna do amante. Aproximou-se mais e disse "Mas eu quero que você me toque", embora estivesse com dor-de-cabeça.

Após levá-lo à exaustão e esperar que ele adormecesse, saiu pé-ante-pé do quarto, carregando suas roupas e bolsa. Vestiu-se na sala. Se nenhum homem nunca havia visto-a assim, tão indefesa, o que faria desse homem merecedor disso? Não encontrou resposta imediata.

Pegou uma maçã no cesto de frutas e cruzou a porta de entrada, decidida a jogar pôquer na noite seguinte com suas amigas.