sábado, julho 18, 2009

Dos sentimentos devotados a entidades sem rosto I

Eu quero perder-me nos braços. Nos braços de um rosto desconhecido e belo. Não há mais passado que valha, e o passado engole vorazmente estes rostos do presente, rostos de braços inúteis e inóspitos.

(O passado não tem mais rostos para o amores táteis)

Quero perder-me nos braços e nos cabelos e na nuca e no cheiro. De quem, não sei quem, aquele, não sei. Perder-me com sofreguidão. Dissolver-me com fúria. Desejar à exaustão esse desconhecido, como se uma corda me puxasse pelo umbigo em direção ao nada.

Perder-me nos braços cabelos carne osso. Eu quero perder-me no que há de vir. E em nada mais.

sexta-feira, julho 17, 2009

Cântico corrido das disposições universais

Olha para o todo. As formas compassadamente mutantes da realidade cotidiana e da irrealidade ficcional vêm dessas formas imateriais, esses vazios inexplicáveis que somos nós. Olha para o todo.

A vaga te perguntará o sentido e se, distraído, olhares para ti, não saberás o que responder. Se não responderes, não saberás para onde ir, e te sentarás no meio do caminho, perdido entre a ida e a volta. Como se as opções fossem muitas, como se não fossem nenhuma. Como se a estrada não fosse óbvia.

Não aches o caminho no teu corpo. Ele que é um só, e tua carne que não é. Ele que te levará aos ciclos de tua errante corrente sanguínea e não te levará a lugar nenhum. Teu corpo não é nada. Nada sem aqueles outros entes imateriais, sem as histórias, sem as falácias. Teu corpo, sozinho, não é nada. Olha para o todo.