segunda-feira, maio 12, 2008

Pais

Vejo lacunas no passado
- algo não estava certo.
Algo faltou, o algo é muito;
as lacunas, vastas.

Perco-me em lamentos
estando, no entanto, inteira:
nas lacunas pousaram
os dedos do improvável.

domingo, maio 11, 2008

42

"Vem comigo, vem
já tenho quase tudo que me basta
a flor do pasto, a mesa posta
minha música e teu calor
agora só me falta aprender o silêncio"
Zeca Baleiro, "O Silêncio"


Essa escrivinhadura é vontade de ouvir o som do teclado. Aceita a quietude - não aceito. Aceita a calma - não aceito. Mente quieta e dedos inquietos, é isso que escrevo sem escrever. Eu estou escrevendo um som agora que vocês não irão ouvir, mas que me alegra. O som corta o silêncio que não existe: teclado, tecidos dobrados, ferro-de-passar, corrida de fórmula um, carro na rua, piano do vizinho, sinfonia.

Quero que entendam o silêncio que não existe porque não entendo o silêncio que existe, ele não se quer explicado. Acho que o silêncio é um hiato. Talvez ele se esconda de mim, pronto p'ra dar um susto quando eu abrir a porta. Quando abrir a porta, conto a surpresa. Quando contar, talvez entenda.

Não entendo, mas desconfio que esse silêncio tenha completude. Sim entendo, é essa falta das palavras que saem. Não entendo, mas desconfio que me faça bem. Sim entendo, foram as palavras que tirou do meu ouvido com sua boca. Entenda-não-entenda, esse silêncio é a companhia que me deixa. Entenda, você nunca me deixa só.