quarta-feira, setembro 28, 2005

Aula na Selva

Cada macaco no seu galho? Não. Macacos onipresentes em todos os galhos, esses igualmente primitivos e desconfortáveis, brincando com celulose branca e formas alotrópicas do carbono. Macaquices em geral, furor em explosão, algo como euforia e felicidade. Ou anomia, simplesmente.

Eis que chega o grandioso rei da selva, com seu rugido que lembra a todos de sua bocarra cheia de dentes afiados. Garboso e convencido de sua grandeza, sente-se enojado por lidar com macacos.

Um macaquinho revolta-se e contesta a grandiosidade do leão, mas não sai ileso: decifra Schopenhauer ou devoro-te.

Enquanto o grande rei, envaidecido, discorre temas filosóficos sobre a efemeridade da vida, os macacos (cada um em seu galho com gomas de mascar a sujar-lhes a calça), fazem macaquices discretas com a celulose e o carbono.

E todos saem felizes. Ou não.




(Missão adiada por tempo indeterminado)
(Não me encham com análises sobre os hábitos alimentares dos leões. (Ainda) não sou bióloga)
(Deviam usar a soda cáustica que tentam usar na nossa moral para lavar as latrinas do colégio, como já dizia João Cabral de Melo Neto)

terça-feira, setembro 27, 2005

Pergunta


"O poeta deve ser triste?", por Abud

Este não é um blog de perguntas e respostas. Tampouco um blog de certezas. Eu diria que é um blog de tristezas e felicidades (ou seria de felicidades e tristezas?) e, acima de tudo, de incertezas. Então sinto-me tentada a responder (ou tentar responder) a pergunta retórica de Abud, pois ela é um mistério para mim.

Algumas associações desconexas e imediatas: "poesia é o que se perde na tradução", e a tristeza se perde na tradução, pois nunca será profunda o suficiente (então poesia é tristeza); "o samba é a tristeza que balança", e a poesia é a tristeza que é exalada pelas palavras como veneno, balançando-se no ar (então poesia é tristeza); "o poeta é uma ilha cercada de palavras", então o poeta é só, e sendo só, é triste (então o poeta é triste).

Mas não. Não consigo, não quero acreditar que a beleza está na tristeza, que a beleza é masoquista e sádica. Se poeta é quem brinca com as palavras ao seu bel-prazer (ou bel-sofrimento), eu sou uma poeta. Estou fadada ao sofrimento? Não creio.

Tive agora uma vontade, vontade de escrever sobre a felicidade, sobre como eu gosto de jujubas, sobre como eu corro à noite para sentir o vento e o cheiro das damas-da noite (me sentido uma também), sobre como sorrisos me dão frio na barriga, sobre como eu gosto de rir até doer o peito, sobre como eu gosto de amar em todos os sentidos mais do que ser amada, sobre como eu tenho um milhão de motivos bobos para sorrir. Serão os motivos bobos que tiram a poesia da felicidade?

Por ora, as tempestades em copos d'água ainda parecem muito mais atraentes. Ainda.

(Filhas prediletas do Rajneesh também têm missões. Acabo de encontrar uma nova, e será concretizada no próximo escrito -pois as prediletas são muito eficientes também).

sábado, setembro 24, 2005

Sobre o despreparo

Que apresente-se o indivíduo que nunca enlouqueceu de tristeza, que nunca mergulhou de cabeça no abismo, que nunca sentiu-se o mais só da humanidade, que nunca quis raspar os cabelos para desmatar a ilha que (afinal) era, que nunca pensou em suicídio: declare-se o vencedor no jogo de viver.

Alguém? Não. Somos todos perdedores. Somos perdedores considerando "perdedor" como aquele que não se tornou ainda exímio na arte de ser feliz (ou de não ser triste). Somos perdedores que não aprendem com os erros e que, portanto, nunca serão vencedores.

A tristeza bate na porta na noite vazia e chuvosa, e abrimos por curiosidade. Ela entra e rouba-nos os movimentos. Ela entra sem pedir licença. Ela mostra-nos o que é profundo, o que é viver. Para viver é preciso morrer. E morremos um pouco.

Quando a felicidade vem, menosprezamos a tristeza, e por vezes esquecemos que ela veio. E que virá novamente. Nunca deixamos a casa arrumada para recebê-la novamente.

E, como bons anfitriões, sucumbimos.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Oficina Livre

Existem coisas que podem ser mais instigantes para fazer na escadinha que chupar jujubas.

(vide "Sobre a inovação")

terça-feira, setembro 20, 2005

Incontrolável

não consigo parar
não posso parar
os movimentos frenéticos da minha mão não conseguem me acompanhar

meus olhos movem-se desesperadamente
em busca de algo
em busca do nada
do descanso e do repouso

não consigo parar, é incontrolável
minha cabeça dói e nunca consigo descanso
dos outros
(de mim mesma)



estou vivendo vorazmente
e anseio uma pausa para não gastar minha vida

aiaiaiaiaiai
está tudo fora de ordem, sem controle
sem controle

estou vivendo incontrolavelmente

e morrendo um pouco também.

domingo, setembro 18, 2005

Sobre a inovação

Eu nunca fui muito criativa ao escolher coisas pra se fazer quando estou triste. Mas hoje eu inovei-me. Estava já enjoada de chorar e tentar distrair-me com a TV para depois lembrar que eu estava triste, ouvir uma música bem deprimente n vezes seguidas e chorar mais ainda, para depois olhar pro espelho e, ao ver meu rosto inchado, lembrar-me de que um dia havia sido vaidosa e que olhava no espelho para ver minha felicidade (ou beleza, para os leigos), e não minha tristeza. Sobre a inovação: eu saí do meu casulo, voltei aos tempos da vaidade e do orgulho onde minha estima valia muito (muito para ser pisada por qualquer um) e fui fazer um passeio à noite sozinha.

Percebi que estava vazia o suficiente para fazer aqueles pequenos saudáveis joguinhos de sedução, em coisas banais como sorrir e dar "boa noite", e receber sorrisos e algumas cantadas (foi quando percebi que as cantadas só são abusadas quando você está brava ou chupando um pirulito). É como uma tímida manifestação da alegria, essa festa entre desconhecidos que é o flerte, mas cansa também. Não era isso o que eu queria.

Fui ao supermercado comprar jujubas, e subi as escadinhas que levavam à rua de cima. Essas escadinhas são entrecortadas por dois patamares que permitem a vista da avenida Prudente de Moraes, algumas ruas e "as luzes da cidade acendendo o fogo das paixões", fora o ventinho amistoso. Sentei-me no segundo patamar, para me sentir duas vezes a dona da avenida e da minha vida. Fiquei a refletir (sem pensar em coisas tristes... nunca pensei que fosse me distrair assim!).

Fui interrompida quando vi um rapaz de rua a subir as escadinhas. Aparentava ter a minha idade. Cogitei ir embora (domingo a essa hora é um perigo ficar em lugares desertos), mas acabei ficando. Talvez ele só estivesse de passagem. Por que fugiria dele como quem foge de um animal?

Não estava de passagem. Sentou longe de mim e, ao fitá-lo, ele desviou o olhar. Seria sua intenção me assaltar? Quem saberia? Ofereci um pouco de jujubas pra ele, aquela distância me incomodava e fazia eu me sentir uma tirana, uma suja, uma pedra. A princípio ele recuou, mas fiz um gesto com a cabeça para que ele aceitasse, e então chegou perto de mim. Estendi o saquinho para ele pegar algumas, mas ele apenas me estendeu uma mão em forma de concha (fiquei surpresa comigo mesma por sequer ter avaliado a limpeza das mãos deles - como epsno que faria já que nunca esperei muito de mim mesma - e estender a ele o saquinho). Despejei metade das jujubas em sua mão e ele afastou-se novamente.

Senti-me feliz com aquilo. A tristeza enobrece as pessoas, para que elas sejam felizes e se recolham à sua felicidade e insignificância. E tornem-se pútridas novamente.


sexta-feira, setembro 16, 2005

Solilóquios III

Por que eu penso tanto? Não valeria mais minha vida se me atirasse em precípícios ou voasse antes que eu pudesse censurar meus atos? Valeria? Ah, o eterno não-saber...

Quando perguntassem aos homens que mulheres os atrai mais, deveriam responder: as que têm as cabeças nas nuvens em sincronia com um concorrente no reino animal.

Já tentaram morder seus cotovelos? Eu já tentei ser feliz. Sempre.

Às vezes grito por dentro (ou por fora) e me arranho só pra sentir minha vida mais de perto. A dor pode ser um alívio quando pensamos que estamos virando pó prestes a ser limpado por um espanador de camareira francesa.

Sinto-me usada quando uso as pessoas. Usá-las sempre é a minha intenção, por que tenho a impressão de que sempre acontece o contrário? Minha vontade de ser prestativa é maior que mim, devemos exercer nossas funções embora alguns esqueçam-se das deles.

Já tentaram bater a cabeça na parede? Um apredizado e tanto. Dói. (Sei que deveria ter aprendido isso na primeira vez, aos três anos).

Não adianta: posso estar arrancando os cabelos, mas o céu de Belo Horizonte sempre me faz sorrir quando necessário. E me acompanha nas minhas horas de choro.
(Chora comigo, céu, companheiro amigo eterno infinito que não me abandona e me rege do seu estranho modo perspicaz e sempre lindo). (Ri comigo também).

Para sorrir sem entender, olhe um símbolo oriental. Não importa o significado.
Mas sim o mistério.



quinta-feira, setembro 15, 2005

Botão vermelho

Meu corpo é teu
mas ainda estou
viva
reivindicando um pouco
de controle
enquanto isso
controlo-me
(para não esvair)

Mas dói
tuas verdades
dóem, tuas perguntas
dóem

mãos que reviram meu
corpo, que bagunça!, que
desastre...,
causas em mim.

consequências em quem?

que perigo, ai de ti!

(e ai de mim...)

quarta-feira, setembro 14, 2005

Infinitudes

Nossos estados de consciência podem ser, por vezes, caóticos. A tristeza não é algo novo em minha vida, e nunca será mero passado. Vivendo aprendemos que alguns ditados são facilmente aplicáveis, como o que eu falarei agora: "não há felicidade que dure para sempre e nem tristeza que nunca acabe".

De fato, se fôssemos pensar no tempo real, as felicidades (assim como as tristezas) têm fim. Vivemos em um ciclo, em uma roda da fortuna em que a probabilidade de ser feliz é potencialmente maior que a de ser triste. Mas estamos falando do tempo real.

E o nosso próprio tempo? Aquele que parece não parar, e parece não passar também? Dele podemos tirar conclusões mais expressivas: a tristeza, quando existe, é infinita. Por isso que, por mais que eu tenha consciência de que ela irá passar, de que ela se dissolverá, isso nunca me faz menos triste. Pois a tristeza, enquanto persiste, é tão infinita, tão sem perspectivas, tão dolorosa!

A felicidade, quando existe, é tão contagiante que nunca pensamos em que nela possa existir uma infinitude. Será que pode mesmo? A felicidade esteve quase sempre presente na minha vida, mas ela escapa com tanta facilidade que começo a duvidar de que nela também possa existir infinitude. As felicidades da minha vida foram efêmeras, e se transformaram em doces lembranças amargas. Não há nada que prolongue ainda mais a momentânea infelicidade infinita do que a lembrança de que já se foi feliz.

Quando percebi isso, deixei de notar um certo ar infantil nas músicas do Tom: "tristeza não tem fim, felicidade sim..."

Sobre o meu tempo, posso dizer que ele é o meu maior vilão. Ele que me enlouquece e me imerge em crises inebriantemente sombrias. Ele que me faz perder qualquer tipo de esperança ou otimismo.

Nada que uma boa ampulheta não resolva.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Sobre as minhas paixões



O que seria uma paixão para mim? Vira-me a cabeça e me tira do sério? Não falarei de amor agora, falarei de teatro!

O palco tem um cheiro inesquecível de madeira. Não é qualquer madeira, não é qualquer piso, é um universo parelelo que cruza o nosso universo. Não dizem os matemáticos que duas paralelas se encontram no infinito? Pois então, teatro é o ponto no infinito. Se considerássemos o infinito o fim, e o fim um começo, o teatro seria o início. A tela em branco.

Lá, nesse ponto infinito, você cria outras pessoas dentro de si mesma. Lá, nesse ponto infinito, você se lembra da realidade e se esquece dela ao mesmo tempo. Lá, nesse ponto infinito, você se sente em casa. Lá, nesse ponto infinito, você se sente livre.

E como é bom ser livre e voar! Não são necessários cabos nem roteiro do Peter Pan: o infinito flutua, o infinito é uma bolha. Lá tenho meus figurinos e minha maquiagem e, no entanto, estou nua. Por dentro e por fora.

No infinito as luzes vêm de todos os lugares e com toda a intensidade. Mas a liberdade não se ofusca. O frio na bariga não se ofusca. Os aplausos não se ofuscam. A paixão também não.

domingo, setembro 11, 2005

A Revolta da Rosa



PARTE 1 (se não gosta de poesia, pule para a parte 2)

A minha rosa

A mim! Foi a mim que ouviste?
Eu! – chamá-la minha rosa!
De certo que é bem formosa
Entre criança e mulher!
Se a vejo tão jovem ainda
Tão simples, tão meiga e linda,
Da vida no rosicler;

Podia chamá-la rosa,
De musgo ou de Alexandria,
Rosa de amor, de poesia,
Mas lhe não dava o que o seu;
Porque se essa flor mimosa
Já chegaste ao teu retrato,
Havias ver como a rosa
De repente esmoreceu!

Porém teu amor, querida,
Teu amor é minha vida,
Que é meu cismar, que é só meu;
Esse que te faz formosa
Entre todas as mulheres
Onde achá-lo?! – Minha rosa...
Minha és tu!... Como sou teu.

Não nego que é meiga e linda,
Entre mulher e criança
Tão jovem, tão meiga, e ainda
Da vida no rosicler;
Mas tu vales mais do que ela
Não conheces bem teu preço;
Acho-te muito mais bela
Como és, - entre anjo e mulher.

GONÇALVES DIAS


PARTE 2 (se não gosta de segredos, fofocas e futricas, fique só na foto mesmo)

Sobre mim: Isso mesmo, agora não é mais sobre a foto. Hora de fazer confidências que vão além dela. Ilustres desconhecidos, talvez isso não interesse a vocês mas eu tenho que publicar: este poema eu dedico a mim. Por quê? Por que eu descobri que nenhum homem nunca vai fazer isso.

Tá, deixa eu tentar fazer isso ter sentido. É o seguinte: Não ficava com ninguém há séculos (a palavra “séculos” pode ser bem relativa, então peguem o que vocês consideram muito tempo e usem como referência – porque o meu tempo é impublicável). Sei que ficar é uma coisa bem física, mas sempre fiquei com pessoas com as quais eu estivesse de alguma forma envolvida emocionalmente. Então chegou um cara que dava em cima de mim há muito tempo e por carência fiquei com ele. É, errado, eu sei, mas eu-carente sou pior que eu-doida e eu-neurótica: incontrolável. Voltando ao cara, ele beijava mal e eu sequer achava ele uma pessoa agradável. Mas eu fiquei eufórica.

Havia desencalhado. Nada como um dia depois do outro, porque eu caí em um poço de arrependimento. Inevitavelmente eu encontrei ele no final de semana seguinte (que viria a ser o último final de semana). Ele ficou de marcação cerrada em cima de mim, e toda hora falava “ Você não vai me beijar na boca mais não?”. (Na minha opinião não tem nada mais vulgar que a expressão “beijar na boca”). Se depois daquela noite desastrosa a melhor coisa que ele tem a me dizer é isso, milhares de poemas nunca serão lidos a mim por bocas masculinas. Se for lido por bocas femininas com segundas intenções, também não adiantaria porque eu sou heterossexual. Vou ouvir então da minha boca. Vou fazer serenata na minha janela. Vou declarar amor a mim mesma. Vou colocar a foto acima embaixo do meu travesseiro. Vou fazer o impossível para que cretinos como ele não matem o infinito amor guardado em livros empoeirados esperando ser dedicado a alguém. VOU DEDICÁ-LO A MIM!

Ahá! Agora me digam: quem precisa de homens?

Desculpem se fui precipitada ou coloquei em questão idéias generalizantes, não esperem hoje algo melhor de mim.


Considerações: Este é um post de um dos inúmeros fotolog que tive (que está, como os outros, inativo - então nem deixo o endereço), referente ao dia 04/10/04. Sobre o meu pensamento, quanta diferença! Como alguém pode mudar da água pro vinho (ou do vinho pra água, ou da cachaça pra vodca, etc...) em pouco menos de um ano?
Revoluções... As revoluções mais significativas são aquelas que acontecem em você mesmo, pois são elas que têm o poder de mudar idéias comuns.

Até em si mesmo.

sábado, setembro 10, 2005

Emplasto

Eu tinha uma idéia que era um soco no estômago e que me desesparava. " (...) pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrogantes cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te"*.

Sim, decifrei-a. Mas ela continuou a devorar-me voraz e impiedosamente, com as dúvidas que não cessavamm e que, abrasivas, corroíam. Uma ideía livre e saltimbanca, com uma auto-anomia que não mede escrúpulos. Livre, não segue a regra de não ferir para não ser ferido. Idéia que me rege e não me guarda. (Idéia que é minha mas não me livra de alusões e citações).

Inimiga e corrente. Ela me unia a algo e me trazia uma felicidade inconsciente. Quando me desfiz dela, meu consciente nunca esteve tão perto do meu inconsciente e eu nunca me senti tão triste e tola. O que me unia de desfez, e eu finalmente me libertei.

A liberdade nunca havia me parecido tão aterrorizante.



*"Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis

Falha

Falha técnica simultânea: no meu computador e na minha inspiração.

Nada que uma boa imersão (?) não resolva.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Pausa

Pausa para o café, para descanso, e pra lembrar o que realmente está acontecendo.

7 de setembro

comemoramos a independência
por pura sacanagem.
nos livramos dos portugas,
mas não da politicagem.
os gringos nos escravizam
e o governo só diz bobagem.

ANITA COSTA PRADO

segunda-feira, setembro 05, 2005

Solilóquios II

Quais são os limites da razão humana?
Muitas vezes já me perguntei se eu saberia se fosse louca, ou tivesse alguma debilitação ou síndrome, por exemplo. Percebo como tratam as pessoas que têm síndrome de Down: afetuosamente, como crianças, estejam elas com a idade que estiverem. Não digo que deveria ser de outra forma, mas isso me faz pensar que tudo o que acontece na nossa vida é armado para que ela seja confortavelmente real. Com felicidades e tristezas. Com alienação cuja cura não se encontra em livros.
Na tentativa de não me alienar, imagino-me uma louca no meio de tantos outros loucos, que vivem em prol de de fazerem-se sentir normais e com uma estranha igualdade. Quando me imagino uma louca, sucumbo em minhas próprias neuroses. Minhas neuroses me consomem e talvez seja considerada louca apesar do pacto inconsciente e silencioso que a humanidade fez para aceitar-se. Ou seja, sou louca ao cubo e descontente de mim mesma (será?).

Pior que ser louca é ser uma louca neurótica.

E descontente consigo mesma.

sábado, setembro 03, 2005

Vapt Vupt

Ouvir jazz dá vontade de dançar por dentro e por fora.

Os amigos de verdade não estão ao seu lado, e sim são ao seu lado.

No ônibus um cara estava vendendo algodões-doces amarelos, laranjas, rosas e brancos. O cara viu minha cara de criança querendo doce e sorriu pra mim quando perguntei qual era o preço. Peguei rosa, a cor das meninas. Ele estava doce e gostoso, mas amargo. Não parei de comer porque o cara simpático estava perto e, afinal das contas, era um algodão doce muito bonito de se comer. Ao final, percebi que poderia estar sendo envenenada. O moço me pediu o palito de volta, e constatei que A- tinha acabado de comer algo não muito higiênico e B- ele estava recolhendo as evidências. Peguei meu bloco de notas e escrevi uma descrição policial dele, disse em qual ônibus estava e como era amargo o algodão-doce, caso alguém procurasse algo perto do meu cadáver.

Esperar ônibus não é legal, principalmente quando parece que eles não irão passar nunca. E, de fato, não passam.

Sinto pelos publicitários: a imagem não rege o mundo como muitos acreditam. Não há algo que aproxime mais as pessoas do que as palavras. (Se uma imagem vale mais do que mil palavras, escolho duas mil palavras)

Um dia acordei pensando que estava grávida de um espírito santo no qual não acredito. Entrei em pânico e percebi que seria capaz de aborto (não, o mundo não precisa de mais um messias para sofrer pecados alheios). Um dia acordei e percebi que era uma assassina em potencial.

Ouvir jazz dá vontade de dançar por dentro e por fora.



P.S.: O que é real? Biografia ou metáforas? Talvez os dois.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Segundo ato

preciso de liberdade
quero esquecer maiúsculas
(como já havia feito para algumas palavras 'mágicas'
- e pouco lógicas)
quero escrever aqui


acolá
pra cá e ___________________________ pra lá

não quero limites, não quero espaço
quero um segundo ato

quero sentir e sentir palavras caírem como quiserem
ou como puderem

como não convir!

sinto a liberdade estrando em espaços indefinidos
e na falta de cooperatividade para com o leitor

(ou pela total cooperatividade de dispensar o inútil e ser direta como bala
os indiretos burocratizam e atrapalham, ai de nós!)


com vírgulas faço ,,,,,,,,,,,,,,,,,,
com interrogações faço ??????????
com exclamações !!!!!!!!!!!!!!!
com pontos faço finais no que é infinito
ou no que quero que seja eternizado

com sentimentos faço
issssssssssssssssssssssssso

e aqui sem ponto e sem ponta inicializo