terça-feira, abril 07, 2009

Sopro e pulso

O coração bate arretado, apertado, sem pressa de parar e com pressa de pulsar. Forte, doído. Como se quisesse irrigar o quarto vazio de sangue, como se as veias não fossem o caminho certo, como se estar dentro de si não fosse suficiente, como!

O que escapa à boca não escapa ao coração. Por isso o pulsar denso e o silêncio. Sopra uma voz anciã: "Criança... nunca foste de guardar tantas palavras".

Agora era, mas não por muito tempo. Aguardava, muda, que as palavras pulsassem fluidas por entres os dedos e fizessem uma lambança obtusa no quarto; passassem por debaixo da porta e inundassem corredor, cozinha e sala de jantar.

Quando o fluido não bastasse, as palavras dissolveriam-se no ar e seriam ouvidas por ouvidos desatentos, causariam calafrios, levariam alegrias inesperadas. Misturariam-se com a voz anciã até que ela fosse inaudível aos ouvidos de qualquer outro ente desavisado, mudo e a pulsar. Não mais faltariam palavras à boca. Não mais faltarão palavras ao coração.