domingo, outubro 30, 2005

Pracinha

Na pracinha antiga, singela, pequena, com playground vermelho. Lá estava minha infância a cantarolar alegre, a brincar na areia, a escorregar pelos meus bracinhos pequenos. E eu rodava, gritava, era serelepe e pimpona, como era feliz!

Penso agora que nascemos com toda a felicidade nas nossas mãos, e que ela vai escapando aos poucos, mas contemos isso enquanto retornamos à origem. Por isso eu deito na barriga da minha mãe, por isso que eu tranço os meus cabelos ainda - só que agora sozinha - , por isso que eu gosto de espantar pombos ( e também porque eles são ratos com asas), por isso que eu rio das mesmas coisas sempre, por isso encanto-me pelo aprendizado, por isso que eu gosto de chuva, por isso que eu volto. Sempre.

Obrigada por voltar comigo...!

sexta-feira, outubro 28, 2005

Espera

a vida por ela mesma
são tantos os confortos externos
os esboços eternos
os olhares condescentes
mãos que afagam, e deixam,
e afagam novamente...
é morte... é sorte.
é ausência a sua presença

o foco agora é nosso
seria alegria e bossa?
seria... pois seja
esteja
onde agora posso ver.
onde agora eu posso ser?

a espera infinita do amanhecer...

domingo, outubro 23, 2005

A propósito da música

"Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar"

Porque tudo é muito real e tocável e só vôo quando danço. Porque a vida pode ser difícil, mas algumas coisas sempre nos dão prazer. Porque a minha vida tem trilha sonora. Porque tenho música para quando estou triste que me deixa mais triste e que assim me faz querer ser feliz. Porque querer ser feliz é o que basta. Porque tenho música para a felicidade que eterniza o momento. Porque meu erro é em fá sustenido. Porque dó é o início e o fim. Porque ainda vou tatuar uma clave de sol em local estratégico. Porque música rega a alma e pode regar o corpo. Porque ela nos tira da nossa inércia. Porque cura a hipodondria social. Porque talvez ela seja sempre a resposta de um "por quê?". Porque esse é o único caso que o que marca é a resposta, e não a pergunta: música e só.



P.S.: Porque meu sábado musical foi a resposta que eu esperava. Agradecimentos ao cLAP! (porque palma ao contrário é música que toca) e ao Los Hermanos (porque se a música emociona por si só, imagine com o fervor de um estádio todo cantando e pulando).

quinta-feira, outubro 20, 2005

Incógnita impossível

era meu amigo
meu cúmplice
parceiro dos crimes
dessa vida-prisão

era minha prisão
passatempo
diversão sutil
desse enigma-obsessão

era obsessão
meu enigma
que não me cansava
mas desiludia

perdi-me no desafio
fica consigo a resposta

segunda-feira, outubro 17, 2005

Monólogo

É incrível como certas imagens podem tocar, podem ferir, podem rasgar. A flor e a arma, o fascínio de um psicopata, a dor do parto, os delírios de um esquizofrênico. Sua indiferença é tão gritante que também é uma imagem. Uma imagem que toca, fere e que eu rasgo.

Às vezes penso que queremos a segurança dos nossos bens. E nós, não somos o nosso único e indelével bem?

A nossa dança é independente, os passos fluem sincronizados, o que você nega? Vai dizer que eu não danço bem? Conforme o ritmo, meu bem, conforme o ritmo e é você quem bate palmas. Não preciso que segure minha mão: basta olhar-me nos olhos.

O psicopata sim, como dança bem, como me tira o equilíbrio e força meus passos, como seguimos sincronizados, como seu sorriso ameaçador me conforta - é como um abraço. Segure-me pela cintura. Dois pra lá, dois pra cá. Não tenha medo de me quebrar. Dois pra lá, dois pra cá. Vamos!, me gire, me jogue, me aperte, me olhe, me beije, me odeie, me ame, me mate! Eu sobreviverei ao doce sadismo do seu olhar.

O que é este cavalgar insano perto da dança. Pois me venha com seus sentimentos! Pois me venha com seus movimentos bruscos! Queres meu bem, meu bem? Para largar-me sem remorso? Pois sim! Seu cavalgar não vale a dança, sua indiferença não vale o ódio. Não me fale de amor!

Enquanto segura-me pelo pulso, flerto com meu assassino. Você se importaria?

No meu monólogo, pouco valem suas palavras que já disseram tanto e não cumpriram nada. Então não responda, pois sua sina é o esquecimento. E sempre achei a morte muito mais atraente.



sábado, outubro 08, 2005

Acorde-me

Agora que tomei banho quente à meia-luz, que escovei meus dentes, que tirei minhas lentes, que penteei meus cabelos, que coloquei meu aparelho dentário, que vesti minha camisola, que arrumei a cama... Agora posso dormir.

Todas as noite realizo o ritual do esquecimento para mergulhar no eidetismo-nosso-de-cada-dia. É como se fosse uma (des)arrumação pouco vaidosa para a viagem em outros mundos, outras regiões, onde se é mocinho. Onde se é vilão. Onde se perde sempre pois, quando não sofremos, acordamos no final.

Agora que afofei o travesseiro, posso ir embora.

Mas não esqueça de acordar-me com um beijo, para eu saber se você sentiu saudades.




P.S.: Preparando-me para uma viagem não-eidética para Poços de Caldas. Se não tiver crises de sonambulismo (e o brotossauro que é o computador de lá resolver funcionar, como diria minha querida Srta. Di ), posto novamente em uma semana.





quinta-feira, outubro 06, 2005

Adeus

leva consigo meu sorriso
forasteiro
pois assim
(re)construo o meu lar

agora começa:
o primeiro ato da peça
que você nunca verá

as lágrimas
longe do seu olhar
as lágrimas

leva consigo meu sorriso
forasteiro
e sem ele, sabe disso
eu só haveria de chorar.



Imensamente influenciada por "De um adeus", do cLAP!, devido a um combinado com minha querida Lívia, a qual (não por acaso) também sentiu-se inspirada com a música.

Mas a inspiração veio de um forasteiro real, e coube a mim a incrível tarefa de auto-fecundar meu sorriso.

terça-feira, outubro 04, 2005

Vilões e bromélias

Eu queria falar sobre as bromélias, pois sei que elas são bonitas e que costumam ser gigantes na futuramente extinta Floresta Amazônica. E acabo de dizer tudo o que sei sobre elas.

Não quero acabar o texto por aqui, então devo falar de alguma impressões que tenho das bromélias, já que nunca vi uma de perto. Então vou exercitar meu 'conhecimento' não-empírico. Assim, direi que as bromélias são charmosas e ostentam uma vaidade que deve encantar os biólogos. São imponentes, com folhas que não parecem folhas como a da roseira-da-casa-da-vovó e flores que não parecem flores como as orquídeas (apesar de serem tão belas quanto). As bromélias parecem animais que gostam de brigadeiro, em suas formas surrealmente arredondadas. Seriam elas então um elo perdido entre os vegetais e os animais em geral (e o Homo sapiens em específico)?

Não creio. Pois sei que não as conheço, e não poderia fazer afirmações de tamanha importância (ou blasfêmia) no mundo científico. Para mim sempre serão vegetais/animais que se alimentam de brigadeiro enriquecido com clorofila. Para a ciência, óbvio que não.


Os mocinhos dos meus sonhos são como as bromélias. Na minha razão, são como os galantes heróis dos filmes de amor, românticos e com amores infinitos no tempo e no espaço. E sei que existem, apesar de não conhecê-los.

Os vilões são as roseiras-da-casa-da-vovó. Conheço como a palma da minha mão, e eles têm toda a minha simpatia. Eles são reais e me fazem ver. Eu os abraço e eles me beijam. Fazem crueldades comigo, são tão diferentes dos mocinhos! Mas amo os vilões, e quero que me acolham nos seus braços para sempre, pois me dão uma estranha segurança. Estranha segurança necessária.

Não quero conhecer as bromélias. Perceberia que elas são meros vegetais.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Missão

Voem, borboletas, voem
Pois o céu é belo,
mas a beleza é finita.

É finita, mas existe
e em sua existência
persiste.

Desistir?
Só se foi sem tentar
(pois quem tentou, não desistiu)

Que valeria a vida sem os olhos
os sorrisos que dão frio na barriga
os beijos que me deram
(ou - ainda - não me deram)?
Sem o céu a rir-se maroto
a natureza a acontecer
os instintos a aflorarem
e as pessoas a se encontrarem?

A felicidade não é a sorte:
é a finalidade.

E a finalidade não é o fim:
é a eternidade.

Permanece...
(então não tema).

Tal qual a ingenuidade infantil que,
apesar de temer,
é feliz.