quinta-feira, agosto 14, 2008

Estanque

Uma pessoa em pé, imóvel, no meio da XV de novembro, enquanto borrões passam apressados de lá pra cá, de cá pra lá. Daqui até longe, até a Sé, até o Vale. O movimento sempre borra, nos ensinou algum cineasta. Borrões, menos a intocavelmente nítida pessoa - tocada por vinte esbarrões por minuto. Esborrões. Ah, sem mais.

Onde estão aquelas palavras de três anos atrás? Elas eram tão minhas que me assustavam. Esse despotismo escrivinhador aos 16 anos fez de mim rei-sol de algum mundo onde tanta luz não ofendesse as retinas dos transeuntes. Essas palavras criaram uma via de teletransporte, antes que o próprio teletransporte fosse inventado. Pensei que ele já estaria disponível depois de três anos.

Pensar na disponibilidade do futuro é deveras curioso. Nesse meu presente de grego, futuro do pretérito, que sou? Indisponível. O futuro não está nas nossas mãos. O que está em nossas mãos são os esbarrões dos borrões. Os esborrões. Ah, sem mais!...