domingo, junho 03, 2007

Eidetismo III

Esse branco me irrita. Tenho uma folha em branco na minha frente, mas ela me irrita. Quero rasgá-la com os dentes, mas a folha é indestrutível. Ela me provoca nessa branqueza toda. Ela me provoca desde sempre. O branco é um despudor de luz; o branco é quem quer que esteja fora disso tudo cuspindo na nossa cara. A folha em branco é uma afronta. A tábula rasa também é uma afronta.

E nós temos nossas mãos que estão atadas. Os punhos cerrados, a contração, a contrição. Nascemos para o despreparo, e por mais que tentemos deixar nossa marca, ela esvanece com o tempo. O que resta é a tábula rasa que não conseguimos marcar - não do jeito que imaginávamos. O que resta é essa experiência vil, experiência que não consegue enfrentar a folha em branco. Não cospe de volta. Não rabisca, não molha, não rasga, não pinta, não suja. Não há sombra.

Há a criança, a última criança, sentada no chão e encostada nas ruínas do muro, folheando páginas em branco de um livro que a humanidade não foi capaz de escrever - embora o branco não a incomodasse nem um pouco.

2 comentários:

Lívia Aguiar disse...

ui



adoreeeei!

Arthur Ribeiro disse...

Sempre que eu fuço seu blog, mesmo que sem nada de novo, eu desço de leio esse texto, mas, por algum motivo, nunca comentei.
Ele é fantástico e fala alguma coisa comigo. Não sei o que, mas fala.
Parece que ele está lá, sendo um texto, como de praxe, tranquilo, aí olha de rabo de olho pra mim e diz: pode vir, não tenha medo.
Só que eu ficava lá, parado.
Até agora.

Acho que o texto de uma boa escritora é meio que isso, né? E, como já cansei de dizer, você é foda! Minha escritora predileta! =)

Você é mais que 76! ^^