Esse branco me irrita. Tenho uma folha em branco na minha frente, mas ela me irrita. Quero rasgá-la com os dentes, mas a folha é indestrutível. Ela me provoca nessa branqueza toda. Ela me provoca desde sempre. O branco é um despudor de luz; o branco é quem quer que esteja fora disso tudo cuspindo na nossa cara. A folha em branco é uma afronta. A tábula rasa também é uma afronta.
E nós temos nossas mãos que estão atadas. Os punhos cerrados, a contração, a contrição. Nascemos para o despreparo, e por mais que tentemos deixar nossa marca, ela esvanece com o tempo. O que resta é a tábula rasa que não conseguimos marcar - não do jeito que imaginávamos. O que resta é essa experiência vil, experiência que não consegue enfrentar a folha em branco. Não cospe de volta. Não rabisca, não molha, não rasga, não pinta, não suja. Não há sombra.
Há a criança, a última criança, sentada no chão e encostada nas ruínas do muro, folheando páginas em branco de um livro que a humanidade não foi capaz de escrever - embora o branco não a incomodasse nem um pouco.
domingo, junho 03, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
ui
adoreeeei!
Sempre que eu fuço seu blog, mesmo que sem nada de novo, eu desço de leio esse texto, mas, por algum motivo, nunca comentei.
Ele é fantástico e fala alguma coisa comigo. Não sei o que, mas fala.
Parece que ele está lá, sendo um texto, como de praxe, tranquilo, aí olha de rabo de olho pra mim e diz: pode vir, não tenha medo.
Só que eu ficava lá, parado.
Até agora.
Acho que o texto de uma boa escritora é meio que isso, né? E, como já cansei de dizer, você é foda! Minha escritora predileta! =)
Você é mais que 76! ^^
Postar um comentário