segunda-feira, abril 21, 2008

Ovo

O ovo na frigideira. Vou fazer uma loucura de amor.

(E penso em você assim, tão distante, mas sempre tão perto e tão junto do meu peito. Sempre, meu sempre é sempre desde aqueles dias de praça; meu sempre é sempre desde que você me deixou assim, tão dramática, tão sedenta por sua atenção, nesses palcos da vida.)

Uma pitada de sal. Vou fazer uma loucura de amor.

(E você tão longe, e esse "tão" nem é tanto, já venci distâncias maiores no espaço. Você tão longe no tempo, também já venci distâncias maiores no tempo. Minha vida é vencer distâncias, minha vida foi mudar de rumo, eu me fui, você se foi...)

Um espirro de óleo quente na mão. Vou fazer uma loucura de amor.

(E é isso, é só parar, pegar a bolsa, pegar o ônibus, pegar vergonha na cara e pegar aquela carta e ir até você assim, como meu pensamento sempre vai e o meu corpo sempre fica. Foram sempre aqueles amores de entrelinhas, pra quê?, se eu tenho esse corpo e essa alma pra lhe dizer!)

O ovo no prato. Estou com fome. Não vou fazer uma loucura de amor e por hoje é só.

4 comentários:

Felipe Lobo disse...

As distâncias físicas sempre parecem fáceis de serem vencidas perto da distância que separa mente e corpo. Um tão mais rápido que o outro... O pensamento vai, grita, berra, esperneia, mas o corpo, tolido, não sai do lugar. Busca nos olhos, o vento, nas palavras, no barulho da janela, algo que mude tudo.

Lívia Aguiar disse...

loucura, para mim, é decarar-se

faça!

Tefo disse...

talvez muitas loucuras de amor sejam evitadas pelas nossas necessidades animais como comer ou dormir.

Natacha Orestes disse...

nessas horas, é inevitável lembrar-se de clarice.
aliás, o que ela faz com o ovo é inesquecível.