domingo, setembro 18, 2005

Sobre a inovação

Eu nunca fui muito criativa ao escolher coisas pra se fazer quando estou triste. Mas hoje eu inovei-me. Estava já enjoada de chorar e tentar distrair-me com a TV para depois lembrar que eu estava triste, ouvir uma música bem deprimente n vezes seguidas e chorar mais ainda, para depois olhar pro espelho e, ao ver meu rosto inchado, lembrar-me de que um dia havia sido vaidosa e que olhava no espelho para ver minha felicidade (ou beleza, para os leigos), e não minha tristeza. Sobre a inovação: eu saí do meu casulo, voltei aos tempos da vaidade e do orgulho onde minha estima valia muito (muito para ser pisada por qualquer um) e fui fazer um passeio à noite sozinha.

Percebi que estava vazia o suficiente para fazer aqueles pequenos saudáveis joguinhos de sedução, em coisas banais como sorrir e dar "boa noite", e receber sorrisos e algumas cantadas (foi quando percebi que as cantadas só são abusadas quando você está brava ou chupando um pirulito). É como uma tímida manifestação da alegria, essa festa entre desconhecidos que é o flerte, mas cansa também. Não era isso o que eu queria.

Fui ao supermercado comprar jujubas, e subi as escadinhas que levavam à rua de cima. Essas escadinhas são entrecortadas por dois patamares que permitem a vista da avenida Prudente de Moraes, algumas ruas e "as luzes da cidade acendendo o fogo das paixões", fora o ventinho amistoso. Sentei-me no segundo patamar, para me sentir duas vezes a dona da avenida e da minha vida. Fiquei a refletir (sem pensar em coisas tristes... nunca pensei que fosse me distrair assim!).

Fui interrompida quando vi um rapaz de rua a subir as escadinhas. Aparentava ter a minha idade. Cogitei ir embora (domingo a essa hora é um perigo ficar em lugares desertos), mas acabei ficando. Talvez ele só estivesse de passagem. Por que fugiria dele como quem foge de um animal?

Não estava de passagem. Sentou longe de mim e, ao fitá-lo, ele desviou o olhar. Seria sua intenção me assaltar? Quem saberia? Ofereci um pouco de jujubas pra ele, aquela distância me incomodava e fazia eu me sentir uma tirana, uma suja, uma pedra. A princípio ele recuou, mas fiz um gesto com a cabeça para que ele aceitasse, e então chegou perto de mim. Estendi o saquinho para ele pegar algumas, mas ele apenas me estendeu uma mão em forma de concha (fiquei surpresa comigo mesma por sequer ter avaliado a limpeza das mãos deles - como epsno que faria já que nunca esperei muito de mim mesma - e estender a ele o saquinho). Despejei metade das jujubas em sua mão e ele afastou-se novamente.

Senti-me feliz com aquilo. A tristeza enobrece as pessoas, para que elas sejam felizes e se recolham à sua felicidade e insignificância. E tornem-se pútridas novamente.


11 comentários:

Anônimo disse...

Oh!!
JUJUBAS!
eu amo jujubas.....

sair do casulo é bommmm... e observar a felicidade também!

só cuidado com alguns lugares, as vezes o deserto e escuro pode ser bom, mas também pode ser perigoso!

;o)

Anônimo disse...

Chorar é muito bom: Limpa a alma e lubrifica o coração. Não sempre, mas devemos chorar sim.

Eu também adoro jujuba! :D hUIAHeuiae!

Fica bem menina e peguei teu MSN, só não sei se é o certo. Bjs.

Anônimo disse...

Lu, cada vez mais eu fico sem palavras quando venho aqui. Sabe o que eu queria mesmo? Estar do seu lado na escadinha. Comer das suas jujubas. Fazer cafuné na sua cabeça e dizer que vai ficar tudo bem.

(ainda me lembro do seu gesto naquele dia de ligar pra mim. ainda hoje conforta meu coração. obrigada por tudo!)

Anônimo disse...

tchua

Anônimo disse...

Que doçura de texto.... apesar de tudo...podemos ver poesia nas pequenas jujubas. Sobrou alguma aí? rs
Beijo minha flor.....amoooooo seus textos.

Anônimo disse...

eu fiquei me perguntando se ofereceria jujubas pra um estranho...

Anônimo disse...

Luísa, nada disto é insignificante! Se é preciso passar, quero dizer vivenciar, este pedaço de vida desgostoso, então que seja vivido de alguma forma... forma esta bem generosa oferecendo até jujubas a estranhos! Gostei, me senti sentada bem perto de vocês, apenas observando a cena...

Anônimo disse...

Gostei do ultimo paragrafo...

Anônimo disse...

É que às vezes a gente se preocupa apenas com o que podemos enxergar de esguêlha. Mas somos muito maiores que isso. Um beijo.

Anônimo disse...

Você não sabe, mas existem umas jujubas que são as jujubas do amor e da felicidade plena e, para ativá-las, você precisa repartir meio saco com um desconhecido de mãos sujas e tímido. Pronto, agora é só esperar e o efeito jujuba a tornará a pessoa mais feliz do mundo. Viu só? Já tá com um sorrisinho. É assim mesmo, aos poucos......

Anônimo disse...

legal isso, moça..
a tristeza tem dessas coisas..