quarta-feira, agosto 17, 2005

Eidetismo

Mãos nuca lábios língua saliva e, de repente, um par de olhos estranhos me encaram eternecidos. Como explicar o infinito dentro do beijo de um estranho? O infinito remexe minhas entranhas e meus músculos se contraem sem que, no entanto, eu sinta frio. Não sei dizer como era quem me beijou, se era feio ou bonito, sua impressão em mim não era dada pela sua aparência. Sua aparência simplesmente não importava em um mundo distante onde imagens são irrelevantes. Me apaixono pela idéia da existência desse estranho sem rosto, mas com olhar tão eternecido...

Olho em volta e me encontro em um bambuzal onde todos os tons são marrons. Uma cobra rasteja à minha volta amistosamente, como quem desse apenas um conselho amigo, como quem profetizasse algo. Tudo escurece de repente e fecho os olhos. O asco toma conta de mim, abro os olhos para saber de onde vem tal sentimento. Me vejo então afundada em meio a aranhas, anelídeos, cobras e baratas, que se refestelam em mim. Incontrolavelmente sai de mim um grito visceral.

Quando percebo, estou em uma piscina, em uma imersão em algo que talvez fosse eu mesma. Consigo respirar sob a água, mas minha respiração se torna difícil e estou prestes a sufocar quando tento subir à superfície. Descubro que a piscina está coberta de vidro, e ouço o som cortante de saltos e sapatos masculinos dançando valsa sobre ele. Bato no vidro e meus punhos começam a doer, mas nenhum convidado da festa mórbida parece me escutar... Minha vista se escurece.

3 comentários:

Anônimo disse...

primeiro: ciúme do estranho sem rosto
segundo: medo dos bichos e dos bambus (??)
terceiro: medo de vc e dessa imagem totalmente surreal
quarto: lembrei dos contos de Poe de enterros prematuros! yeah babe!...

bjos, moça!...

Anônimo disse...

Caramba... deve ter doído, rs. São sensações no mínimo forte demais. Vou indicar seu blog pra um amigo. Beijos

Anônimo disse...

Que angustia!!