terça-feira, agosto 16, 2005

Ponto

De manhã, quando acordo, estou num filme em câmera lenta (ora em preto-e-branco, ora em tecnicolor - não que isso seja importante). A maquiagem é ótima: cara amassada e olheira, um pouco exagerada. A edição de imagens também, desordenadamente perfeita! E eu, modéstia à parte, pareço ter sido feita para interpretar eu mesma, com um andar vacilante e lacônicos "nhá".
O diretor não tinha sincronizado muito bem o filme com a realidade e, se meu filme era em câmera lenta, a areia ainda caía voraz na ampulheta. Ao perceber isso, precipito-me escada acima (projeto singular, o do meu prédio) e vejo o ônibus passar cambaleante. Comecei a correr como algo que não lembrava nada a personagem de alguns minutos atrás.
(Lembro da minha vida sedentária quando após três minutos de corrida eu esmoreço - e o ônibus se vai, esquecendo-se de parar no ponto).
O motorista havia me visto, trocamos olhares (suplicantes, os meus), por que não parou? Então eu sinto como a atividade anômala abalara meu organismo ineficiente: meu coração disparava, estava gélida, a garganta doía com a entrada e saída constante do ar frio, a rua formava uma anel ao meu redor.
Sento e choro como uma criança perdida. Por que não parou? Seria verdade então que ninguém neste mundo pensava nos outros, ou em mim (de vez em quando)? Não quero parecer egocêntrica, mas às vezes eu não sou capaz de pensar sozinha em mim mesma, então sento e choro. Como uma criança perdida.
Pessoas passam e parecem não se importar com a tragicomédia que é a minha vida (onde estava a esplendorosa atriz do início da manhã?).
Levanto-me e vou caminhando para a escola.

"Keep walking. Johnnie Walker."

5 comentários:

Anônimo disse...

Ah, isso acontece comigo SEMPRE!
hhhhhhhh...
e olha que as vezes eu consigo pegar o ônibus, as vezes...
tchu tchu tchu.. bjos!

Anônimo disse...

Harvey Keitel!
sempre lembro do Harvey Keitel...
é até interessante, vc pega um figurão bem-sucedido e bastante viril, um slogan marcante e scotch! voilà!! auto-ajuda para alcoolistas-wannabe's!!...
'Joãzinhos andantes'... mais legal ainda é tratar o slogan como um desafio, tipo assim:
Scotch whisky - 'drink up, you slimey sissy I'm-too-weak-for-this- beverage-kinda-boy, and then I most certainly defy you to keep walking...'
prefiro a primeira opção na verdade...
ah, curti o texto, os busões realmente têm um papel marcante em seus escritos!...

bjos, moça!!...

Anônimo disse...

Caramba... eu não disse isso antes, mas agora acho importante fazê-lo! Vc escreve muuuuito bem, ou pelo menos está em evolução constante! E o que postou hoje me fez refletir um pouco sobre as coisas que às vezes me acontecem e nem sempre encontro equilíbrio... A gente perde o ônibus, mas não pode perder a caminhada... Um beijo :)

Anônimo disse...

Eii!
eh, parece q os motoristas gostam de descarregar todas as suas frustrações no ato de deixar passageiros chorando no pponto, como se isso os fizesse sentir melhor...
Depender de ônibus eh triste: quanto mais pressa vc tem, mais ele demora a passar...eu jah cheguei a perder 2 no msm dia...vuação poca eh bobagem hehe.
Mas naum fique triste, as vezes ir andando eh bom pra relaxar, ver a cidade acordando e talz...(putz, q visaum utohpica e otimista horrivel) hehe
Bjos!!

Anônimo disse...

Olá! Obrigado por visitar meu blog :)
Isso é um "dejà vu" que acontece com todo mundo. Ñ há quem ñ passe por isso, ainda mais aqueles quem tem direito à gratuidade, como alunos de escola pública, deficiente e idosos. Vc ñ está sozinha.
Sobre o que eu falei no blog, eu vi uma realidade diferente quando estive na Argentina. Lá ñ existem mendigos, as pessoas se oferecem pra carregar suas bolsas em troca de alguns pesos, e ficam assim o dia todo. Ñ poderia ser assim também? Mas aqui preferem receber o peixe pronto do que aprender a pescar. Enfim, é o Brasil =P